20111023

Don't Give Up! (Não desistam!)



 
 Quando a Justiça parte da Natureza...




O enredo

Um frio tênue continua a pairar sobre a Ilha de Guaiaó nesta Primavera. Foi bem aqui, nesta pequena ilha ao Sul do Atlântico, que os colonizadores chegaram às terras conhecidas pelos índios, antigos habitantes destas terras, como Enguaguaçu. Que, em tupi-guarani, quer dizer Enseada Grande. Recebidos pelos nativos com espanto e curiosidade, responderam à bala a qualquer tentativa de aproximação. Os relatos dos historiadores são claros ao narrar a chacina que dali se seguiu.

O genocídio não poupava as crianças ou os velhos. Era preciso estabelecer ali, naquelas terras "selvagens" e povoadas de "pagãos", a primeira vila do país conquistado. Para dali extrair suas riquezas e enviar de volta à coroa colonizadora seus quinhões. E o verde da mata se tingiu de vermelho...

O mesmo vermelho que tingia o tronco do Pau-Brasil, madeira tão valiosa para o escambo que não tardaram a derrubar florestas. Milhas e milhas de floresta virgem eram destruídas em nome do crescimento econômico da colônia. Afinal, era preciso expandir as cidades...e garantir a continuidade da extração de riquezas. E o verde da mata se tingiu de marrom...

O mesmo marrom que hoje colore a terra infértil e os rios das metrópoles. Leitos aquáticos que outrora davam peixes, mas que a poluição transformou em lodo e esgoto. Hoje inundados com os dejetos pútridos dos moradores, que trabalham incansavelmente para manter o crescimento econômico das cidades, extraindo petróleo das profundezas da Terra, para que o colonizador receba os quinhões a ele devidos. E a areia da praia se tingiu de preto...

A música

Em junho de 2010, programamos algumas bases rítmicas sobre divisões tribais com 100 BPM, com o foco nas batidas cardíacas do ser humano. Maurício pediu a André que cantasse o que lhe viesse à mente. Mergulhando nos primeiros layers de percussão, a letra e a melodia surgiram de sua boca em um único take, gravado numa das poucas noites frias do Inverno aqui no Hemisfério Sul.

No arranjo, concordamos utilizar os instrumentos e vozes afinados com base na escala musical pitagórica, com a nota A = 432 Hz, ao invés dos 440 Hz habituais. A mensagem da letra, percebemos durante a edição, está dividida sob quatro óticas (vozes) diferentes.

A primeira dessas vozes é a da própria Justiça, que traz a Liberdade para os povos escravizados, na forma da vingança. Não a vingança dos homens, oferecida sob o peso de suas leis e julgamentos. Mas a revanche, a reviravolta praticada pelas leis naturais, teologicamente simbolizada pela Justiça Divina, que representa a reação para toda ação, a inefável consequência de nossos atos.

Ela (a Justiça) traz o fogo em suas mãos, simbolizando a chama da consciência. A consciência que se fará conhecer - seja pelo amor, seja pela dor. Seja porque aceitamos o nosso destino, seja porque sofremos tentando mudá-lo. Só a consciência oferece a salvação.

A segunda "voz" é a fala do povo subjugado. Que sofre enquanto aguarda por uma solução para o seu destino. Mas não perde as esperanças e consegue resgatar o seu contato ancestral com o Sagrado Feminino na forma da Justiça, despertando, assim, essa força sobre eles. Eles são os "little ones" (pequeninos).

A terceira é a voz do xamã, do sábio, daquele que, se não atingiu o estado máximo de iluminação, ainda assim é capaz de estabelecer uma ponte entre o divino e o profano. Ele surge como o mensageiro, aquele que tem as visões, vislumbres do que está por vir. É ele quem vê a chama da consciência transformando o opressor, consumindo sua alma para que perceba as suas faltas e tenha a oportunidade de corrigi-las, transformando, dessa maneira, a si mesmo e ao meio.

A quarta e última, é exatamente a voz daquele que oprime, do que comete injustiças contra seus irmãos. E que, inevitavelmente, verá surgir no horizonte o sinal das consequências de sua ambição desmedida, de sua luta desesperada por poder. Poder sobre o outro, porque é incapaz de manter controle sobre si mesmo. Este personagem é revelado pela conjugação verbal irregular de algumas frases da letra da música, o que o identifica como um "estrangeiro", aquele que não fala a língua ou não conhece a fundo os costumes do povo ao qual subjuga.

O que é positivamente surpreendente - e aí entra o papel do lirismo na letra - é que, mesmo sabendo que, sob a espada da Justiça ele terá de abandonar os velhos preceitos e escolhas inúteis que provocaram dor e sofrimento em seus semelhantes, ele é capaz de reconhecer a chama da consciência trazida pela mão do aspecto vingativo da Justiça. E, ao final, se entrega, se deixa consumir pelo fogo da virtude, para renascer em uma nova etapa da escala evolutiva. E compreende que só aceitando a inevitabilidade da "morte" é que se renasce para a consciência de eternidade.

"É claro que a letra aqui não trata da morte física propriamente dita, mas sim a "morte", o fim dos moldes, formas, aspectos de nossas personalidades que não precisamos ou não desejamos mais. E, a fim de ser cercado pelas "luzes superiores", como diz a canção, devemos encarar essa "morte" não como a perda de algo vital, mas como a transformação de uma forma velha para uma totalmente nova. Uma revitalização!", explica André.

"Para alcançarmos essa revitalização, é necessário que nunca desistamos de nossos ideais. E que combatamos a injustiça com vigor dentro de nós, para que ela não passe mais a existir fora de nós. Somente a honra de uma intenção pura, a mais linda das jóias, será capaz de desfazer os nós que atam os homens em sua insensatez", afirma Maurício.

O vídeo

Todo processo criativo depende de uma série de fatores. Internos, como ânimo, intenção, objetivo, desejo, humor; e externos, como críticas, sugestões, experiências, vivências. Nós, do HI-BRAZIL, respeitamos cada um desses sinais como colaboradores do processo artístico. E os misturamos à massa com que moldamos, com muito carinho, nossas pequenas "esculturas" digitais.

No caso do projeto Don't Give Up!, não foi diferente. Com a fluidez de um rio que se esgueira por entre as pedras de uma montanha, cada peça do quebra-cabeças foi se encaixando com a sutileza de uma flor de lótus ao desabrochar. Nada foi imposto, nada foi medido. Tudo apenas fluiu, como teria que ser.

Excertos de reportagens televisivas, documentários e até mesmo jogos de videogame são os responsáveis pela narrativa. Misturados a imagens captadas pelas câmeras e iPhones de André e Guacymar, eles formam o intrincado e incontestável enredo de que trata a música. "Desmistificando a dúvida", como prefere dizer Guacymar.

"A música já estava pronta havia um ano. Ela esperou pelo momento exato de ser revelada, passou por um tempo de maturação até que alcançasse a dimensão das imagens. E o resultado é um encontro avassalador entre passado e futuro. Moldando o presente...", conclui.




Não Desistam!

Não desistam, pequeninos
Não desistam, pequeninos
Trarei a vossa vingança
Com o fogo na minha mão
Trarei a vossa vingança
Trarei a vossa vingança

Não desistam, não desistam!
Não desistam, não desistam!
Eu vos trarei a minha vingança
(E nós vamos obter a nossa vingança)
(Nós estamos em suas mãos, ela vai trazer luz superior)

Ela virá da montanha
Com os cabelos ao vento
Como a chama de vulcões
(Eu sei que ela virá, eu sei que ela virá)
Ela virá

E os seus pés "é" tão destrutivo
Ela vai abrir o mar
(Pequeninos, não desistam)

Todo o sangue que ela levará
(Eu trarei pedras)
(Ela "traz" luz superior)
É pelo ... amor de ... para o resto
(Eu vou trazer o fogo)
(Com as pedras na mão)
Não desistam, fiquem juntos
(Vou trazer pedras)
(E o fogo chegou ao fim)
Não desistam, fiquem juntos
(Com o fogo vem o fim)
Não desista!
(Com o fogo vem o fim)

Com o fogo vem o fim
Com o fogo vem o fim
Não desistam, não desistam
Fiquem juntos, bem juntos
Um só coração, um só coração
(Pequeninos, pequeninos)
Um só coração, um só coração
(Pequeninos, pequeninos)

Eu não posso dizer mais nada
Tudo está oh ... tão longe, tão longe
É tudo ilusão novamente

Ela vai fazer tudo ... ela vai fazer tudo
(Eu trarei, pequeninos)
Ela vai fazer tudo novamente
(com os fogos eu desisto)
Ela vai fazer tudo
(ela vai queimar sua alma)
novamente
(Eu desisto!)
(sim, ela vai)

Ela vai construir sua vida novamente
Não tenham medo
Pequeninos, pequeninos
Ela irá ajudá-los
Ela me disse:
(É tudo o que vejo)

Todo o ar é fogo!
(uma palavra, é o fim)
Todo o ar é fogo!
(uma palavra, é o fim da sua vida)

Se esqueça de ser!
(Não deixem que façam isso com vocês!)
Sua vida está terminando agora
Sua vida está terminando agora
Sua vida está terminando agora
Abra o seu coração
Você verá as luzes superiores
Surgindo em seu self!
(Não desistam, pequeninos, não tenham medo)
Ela virá!


 





Ficha técnica

Composição de letra e música + vocais: André Luiz Salibi
Arranjo + produção + execução + finalização + arte da capa: Maurício Businari
Elaboração + produção + execução do vídeo: Guacymar Mazzariello
Agradecimentos: Internet + Internautas
HI-BRAZIL 2011

hibrazil@mac.com


2 comentários:

Mirna Asenjo disse...

Que a Justiça seja feita, anseio por isso, e esse trabalho me renovou as esperanças e a vontade de ainda acreditar que a Justiça, de fato, ainda será feita! Parabéns a todos vocês!

The Hi-Brazilian Blogger disse...

Obrigado, Mirna...somos um só coração!!!


<3